Talvez quando você lê esse bilhete
você lembre que o espaço vazio da cama é meu, te deixo juntamente com as
contas atrasadas, afinal de contas você percebe que chegamos ao fim da nossa
cota?
Uma cama vazia, uma banda de colchão
mais leve, um travesseiro frio.
Fui embora antes que esquentasse ou o
meu cheiro ficasse, na rodoviária exala.
És solitária.
És também um bocado de tantas outras
coisas, ouço isso de outros.
Nessa ultima passagem fiz varias
coisas pela primeira vez na sua casa. Percebeste? Percebeste? Creio que não...
Tratei de redecorar do nosso jeito,
espalhei tudo, baguncei, não quero que percebas algo novo em mim, tratei de
cometer haraquiri na sua e na
minha vida.
[...]
Extravagâncias, amantes, dívidas, separações,
alegações de incesto, morte por febre.
Tem que saber que não é invulnerável, que vão te
fazer a corte e os cortes, nunca as
suturas.
Você é antigo na dor, faz de sangrias coaguladas
teu pranto.
Você colocou as mãos na labareda, deu as mãos de bandeja à palmatória.
Você cometeu haraquiri, e o show ainda nem
chegou na metade.
[...]
Espero
de volta teu bilhete, rasgue o meu, não importa, sei que dirás que quem cansou
foi tu, não adianta.
Cansou
do joguete, cansou das brigas, cacete!
Embebedar-se
não resolve, derrame de sangue no carpete mancha, querosene o fogo consome,
assim como teu nome, assinatura, cheiro de cigarro, embebedar-se não resolve.
Teu
nome que some, assim como calor do travesseiro que nem deixastes mornar.
Quando
você lê esse bilhete já estarei na alta estrada, aliança já quebrada.
Sim
cometerei haraquiri apenas em nossas vidas, sua vida, que breve breve será
esquecida.
Marcelo C.