quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Alta estrada


Talvez quando você lê esse bilhete você lembre que o espaço vazio da cama é meu, te deixo juntamente com as contas atrasadas, afinal de contas você percebe que chegamos ao fim da nossa cota?
Uma cama vazia, uma banda de colchão mais leve, um travesseiro frio.
Fui embora antes que esquentasse ou o meu cheiro ficasse, na rodoviária exala. És solitária.
És também um bocado de tantas outras coisas, ouço isso de outros.
Nessa ultima passagem fiz varias coisas pela primeira vez na sua casa. Percebeste? Percebeste? Creio que não...
Tratei de redecorar do nosso jeito, espalhei tudo, baguncei, não quero que percebas algo novo em mim, tratei de cometer haraquiri na sua e na minha vida.

[...]

Extravagâncias, amantes, dívidas, separações, alegações de incesto, morte por febre.
Tem que saber que não é invulnerável, que vão te fazer a corte e os cortes, nunca as suturas. 
Você é antigo na dor, faz de sangrias coaguladas teu pranto.
Você colocou as mãos na labareda, deu as mãos de bandeja à palmatória.
Você cometeu haraquiri, e o show ainda nem chegou na metade.

[...]

Espero de volta teu bilhete, rasgue o meu, não importa, sei que dirás que quem cansou foi tu, não adianta.
Cansou do joguete, cansou das brigas, cacete!
Embebedar-se não resolve, derrame de sangue no carpete mancha, querosene o fogo consome, assim como teu nome, assinatura, cheiro de cigarro, embebedar-se não resolve.
Teu nome que some, assim como calor do travesseiro que nem deixastes mornar.
Quando você lê esse bilhete já estarei na alta estrada, aliança já quebrada.
Sim cometerei haraquiri apenas em nossas vidas, sua vida, que breve breve será esquecida.

Marcelo C.

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